O ego nacional num país das maravilhas
						
						   Nicolau  Santos, Director - adjunto do Jornal Expresso, refere na revista "Exportar" que conhece um país que tem uma das mais  baixas taxas de mortalidade mundial de  recém-nascidos, melhor  que a média da UE,  um país onde tem sede uma  empresa que é líder mundial de tecnologia de  transformadores.  Um país que é líder mundial na  produção de feltros para  chapéus,  que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende no exterior para dezenas  de mercados,  que tem uma empresa que  concebeu um sistema pelo qual você pode escolher, no  seu telemóvel,  a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se  quer sentar. Um país que tem uma empresa que  inventou um sistema biométrico de pagamento nas bombas de  gasolina, que tem uma empresa que  inventou uma bilha de gás muito leve que já ganhou prémios  internacionais,  um país que tem um dos melhores  sistemas de Multibanco a nível mundial, permitindo operações  inexistentes na Alemanha,  Inglaterra ou Estados  Unidos,  um país que revolucionou o sistema  financeiro e tem três Bancos nos cinco primeiros da  Europa. Um país que está muito avançado na  investigação e produção de energia através das ondas do mar e do  vento. Um país que tem uma empresa que analisa o  ADN de plantas e animais e envia os resultados para toda a UE,  um país que desenvolveu sistemas de gestão  inovadores de clientes e de stocks, dirigidos às  PMES,  que tem diversas empresas a  trabalhar para a NASA e a Agência Espacial Europeia, que  desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas, que inventou e produz um medicamento anti-epiléptico para o mercado  mundial, que é líder mundial na produção  de rolhas de cortiça. Um país que produz um  vinho que em duas provas ibéricas superou vários dos melhore vinhos  espanhóis, que  inventou e desenvolveu o  melhor sistema mundial de pagamento de pré-pagos para  telemóveis, que construiu um conjunto de  projectos hoteleiros de excelente qualidade pelo Mundo.
Diz ele que o leitor, possivelmente, não reconhece neste país aquele em que vive... Portugal. Mas afirma que tudo é verdade.Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses. Chamam -se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Out Systems, WeDo, Quinta do Monte d'Oiro, Brisa Space Services, Bial, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Portugal Telecom Inovação, Grupos Vila Galé, Amorim, Pestana, Porto Bay e BES Turismo.
E desenvolve, afirmando que há ainda grandes empresas multinacionais instalada no País, mas dirigidas por portugueses, com técnicos portugueses, de reconhecido sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal e a Mc Donalds (que desenvolveu e aperfeiçoou em Portugal um sistema que permite quantificar as refeições e tipo que são vendidas em cada e todos os estabelecimentos da cadeia em todo o mundo).
Explica Nicolau Santos que é este o País de sucesso em que vivemos, estatisticamente sempre na cauda da Europa, com péssimos índices na educação, e gravíssimos problemas no ambiente e na saúde...etc, mas que só falamos do País que está mal, daquele que não acompanhou o progresso, e que seria tempo de mostrarmos ao mundo os nossos sucessos e nos orgulharmos disso.
Bem, isso é de facto muito interessante, mas... falemos verdade.
						
						
						
					  
					  Diz ele que o leitor, possivelmente, não reconhece neste país aquele em que vive... Portugal. Mas afirma que tudo é verdade.Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses. Chamam -se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Out Systems, WeDo, Quinta do Monte d'Oiro, Brisa Space Services, Bial, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Portugal Telecom Inovação, Grupos Vila Galé, Amorim, Pestana, Porto Bay e BES Turismo.
E desenvolve, afirmando que há ainda grandes empresas multinacionais instalada no País, mas dirigidas por portugueses, com técnicos portugueses, de reconhecido sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal e a Mc Donalds (que desenvolveu e aperfeiçoou em Portugal um sistema que permite quantificar as refeições e tipo que são vendidas em cada e todos os estabelecimentos da cadeia em todo o mundo).
Explica Nicolau Santos que é este o País de sucesso em que vivemos, estatisticamente sempre na cauda da Europa, com péssimos índices na educação, e gravíssimos problemas no ambiente e na saúde...etc, mas que só falamos do País que está mal, daquele que não acompanhou o progresso, e que seria tempo de mostrarmos ao mundo os nossos sucessos e nos orgulharmos disso.
Bem, isso é de facto muito interessante, mas... falemos verdade.
O problema do nosso país, por  mais optimistas que possamos ser, é que as coisas boas praticamente não  têm expressão face à extensão e à gravidade de todos os problemas que  afectam a vida de milhões de pessoas.  Tentar fingir que existe muito  sucesso e mérito onde mais não há do que casos pontuais de relativa  satisfação para um número muito restrito de pessoas, é esconder a  verdade.  Por isso, o país retratado  nessa crónica não é Portugal. Não é o Portugal que  conhecemos. Não é o Portugal que retrata a  sociedade portuguesa e os portugueses. Tanto assim é que a  grande aposta do cronista é tentar despertar o maior espanto e surpresa  possível junto do leitor, ao informar que existem empresas com sucesso  em Portugal.
Ora, é precisamente na cristalização dessa intenção que reside a sua maior falha, pois ao partir do princípio que causará surpresa e espanto, assume, mesmo que inconscientemente, que aquele Portugal que quer representar não existe na vida real dos cidadãos. Ou seja, se não é perceptível, como invocar essa caracterização para ilustrar o país? Considero-me um realista crítico. Por isso, optimismo ou pessimismo mais não são para mim mais do que estados de espírito individuais que não se devem misturar na análise de factos sociais.
Relativamente às últimas notícias que tanto têm denegrido as instituições, empresas, órgãos de soberania, etc., aplico uma pequena metáfora: diz-se que basta uma peça de fruta podre num saco para estragar todas as outras. Imagine agora que não existe apenas uma, mas duas, três, enfim, que a maioria da taça está cheia de frutas podres. O que é que as outras fazem? Das duas uma: ou por magia curam as restantes (o que sabemos não ser possível), ou então não resta outra hipótese senão, após uma cuidada apreciação, retirar o que está podre para salvar as restantes.
Não sei se a ingenuidade do cronista é intencional ou se o objectivo do seu texto é realmente fazer-me sentir orgulhoso do país por causa das empresas que nele alcançam sucesso na sua área de negócios, que têm muitos lucros e que vendem muito (sem sabermos se à custa de empregos precários, falsos recibos verdes, salários mínimos, despedimentos de mão-de-obra para haver aumentos salariais para gestores, etc)..
Do ponto de vista do autor, até fico com a impressão que tudo isso é mais importante do que focar os nossos esforços em procurar conhecer os flagelos sociais para assim os podermos mitigar, construindo uma nova cultura de valores..
Quanto a mim, prefiro orgulhar-me da nossa história e da nossa capacidade de resistência num mundo pseudo-desenvolvido.
Empresas nascem, lucram e morrem.
É o país que fica.
Ora, é precisamente na cristalização dessa intenção que reside a sua maior falha, pois ao partir do princípio que causará surpresa e espanto, assume, mesmo que inconscientemente, que aquele Portugal que quer representar não existe na vida real dos cidadãos. Ou seja, se não é perceptível, como invocar essa caracterização para ilustrar o país? Considero-me um realista crítico. Por isso, optimismo ou pessimismo mais não são para mim mais do que estados de espírito individuais que não se devem misturar na análise de factos sociais.
Relativamente às últimas notícias que tanto têm denegrido as instituições, empresas, órgãos de soberania, etc., aplico uma pequena metáfora: diz-se que basta uma peça de fruta podre num saco para estragar todas as outras. Imagine agora que não existe apenas uma, mas duas, três, enfim, que a maioria da taça está cheia de frutas podres. O que é que as outras fazem? Das duas uma: ou por magia curam as restantes (o que sabemos não ser possível), ou então não resta outra hipótese senão, após uma cuidada apreciação, retirar o que está podre para salvar as restantes.
Não sei se a ingenuidade do cronista é intencional ou se o objectivo do seu texto é realmente fazer-me sentir orgulhoso do país por causa das empresas que nele alcançam sucesso na sua área de negócios, que têm muitos lucros e que vendem muito (sem sabermos se à custa de empregos precários, falsos recibos verdes, salários mínimos, despedimentos de mão-de-obra para haver aumentos salariais para gestores, etc)..
Do ponto de vista do autor, até fico com a impressão que tudo isso é mais importante do que focar os nossos esforços em procurar conhecer os flagelos sociais para assim os podermos mitigar, construindo uma nova cultura de valores..
Quanto a mim, prefiro orgulhar-me da nossa história e da nossa capacidade de resistência num mundo pseudo-desenvolvido.
Empresas nascem, lucram e morrem.
É o país que fica.
 
					 
					
