P E R S P E C T I V A S

Para uma crítica do Conhecimento nas sociedades pós-modernas

23.7.10

A razão de ser dos Exames

Na sua essência, o exame actual não mede nada, a não ser a capacidade de memorização. O projecto de Exames não trata de elevar a inteligência dos alunos, mas simplesmente, e de forma muito permissiva, subjectiva e questionável, estabelecer rankings de avaliação passíveis de comparabilidade europeia (veja-se o caso da Matemática, Física e Química, Biologia, das línguas estrangeiras, etc.).

Ou seja, o ensino, ao invés de potenciar a criação de uma cultura geral de base sólida, de estimular as técnicas expressivas e de comunicação, de criar hábitos de estudo e apresentação de trabalhos reveladores de capacidades críticas, de gestão, síntese, planeamento e organização, demite-se de todas essas funções porque existem os Exames.

Será que alguém compreende a extensão e a gravidade desta inversão de valores? Não vale a pena investir na Educação, em ter bons professores, em cultivar uma cultura de qualidade desde dos primeiros níveis de ensino, porque a realização das provas sai mais barato ao Estado e permite anular a figura do estudante enquanto indivíduo com ideias, capacidades e projectos, para passar a ser um número (mais ou menos o que se passa com os restantes cidadãos)…

Assim, estabelece-se uma meta que não permite às próximas gerações ambicionar o que quer que seja, porque a educação não é importante. Como alguém dizia: "Estudar para quê? Quando muito, só tenho de esforçar-me nos Exames e pronto" (...)

Num ensino de referência, os exames seriam contínuos, sem efeitos práticos no acesso ao ensino superior (é claro que isto conduziria a outro debate que se prende com a anulação dos numerus clausus). O exame deveria ver o seu estatuto reduzido a um mero acto administrativo de verificação de competências, e não de memorização de matérias.

A avaliação deve por isso ser constante, e isso tem que ser aceite com naturalidade por todos. Antigamente, todos os portugueses sabiam o nome dos rios, onde nasciam, por onde passavam...hoje nem a tabuada precisam de saber, muito menos as capitais de distrito e a divisão dos poderes políticos.

Pouco importa ser um génio a matemática se não sabe escrever uma linha em bom português, se não sabe comunicar, interagir, apresentar ideias, ser criativo, ter opinião e objectivos na vida. E é para isso que o nosso sistema de ensino deveria servir: dar objectivos aos jovens, com as ferramentas que precisam para fazer parte da população activa.

O exame é assim, na prática, uma estratégia de facilitismo. O Estado devia preparar pessoas inteligentes, competentes, ousadas, capazes de arriscar e com humildade para se pôr à prova. Só assim é que o país vai crescer.

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