P E R S P E C T I V A S

Para uma crítica do Conhecimento nas sociedades pós-modernas

2.3.06

As cidades do futuro

«A solução mais simples são os prédios de apartamentos.
Se as pessoas pretendem, a qualquer custo, viver em
cidades grandes, precisam aprender a morar umas em
cima das outras. Mas o povo não se acostuma facilmente
com esses prédios. Quase todos dirão que querem uma casa
só deles, e ao que tudo indica, uma casa, no meio de
um bloco compacto de casas enfileiradas ao longo de cem jardas,
parece-lhes mais só deles do que um apartamento suspenso no ar.»

George Orwell, the road to Wigan Pier (1937).



A nossa cultura demonstra uma grande ansiedade em relação ao futuro. Há mesmo quem afirme que a cidade é um utensílio eficaz que apenas tem servido aos grupos humanos dominantes para manterem o seu domínio. A significação, a utilização e própria estrutura da cidade só poderão modificar-se se a estrutura socioeconómica que lhe deu origem se transformar em primeiro lugar. Senão, os ajustamentos progressivos e as reformas hão-de sempre falhar na transformação das suas características contemporâneas.

A progressiva globalização das trocas e as modificações nas estruturas de produção deram, nos últimos vinte anos, uma grande importância às funções de decisão e ao novo sector terciário que se localiza nas maiores cidades, e sobretudo nos países desenvolvidos.

Essas novas metrópoles da globalização, organizam-se com cada vez mais frequência, em espaços mais amplos do que a cidade propriamente dita, e constituem regiões metropolitanas. Para Ascher, trata-se de progresso e marcha para as metapoles do futuro. Para outros, consiste em agravamento de certos problemas, fortemente evidenciados nos países do Sul.

No entanto, a gestão da convivência pública entre grupos sociais com situações económicas e relacionais muito desiguais, é central para a sustentabilidade das cidades do futuro. É que face às condições de reconhecida desigualdade no acesso aos bens urbanos disponíveis, o papel regulador estatal permite reequacionar o lugar das diferenças na vida das cidades “gigantes”. Sem ele, as dinâmicas bem conhecidas noutros continentes tomarão inevitavelmente conta dos nossos espaços públicos, da nossa vida colectiva, reduzindo ao ínfimo o sentido de liberdade que tanto enalteceu o sonho de metrópole que transportamos desde o final do século XIX.

Sonho ou terror policial, o futuro das cidades, sobretudo das grandes cidades, está em boa medida dependente da capacidade que os decisores tiverem para definir e aprovar políticas para as cidades e as suas populações, nas quais sejam necessariamente tomados em conta os custos económicos no imediato, mas também avaliados os custos sociais de longa duração. É pois necessário imaginar novas políticas que terão de ser ponderadas face a uma série de factores emergentes, dos quais se destaca a dinamização da mobilidade em todos os planos.

À semelhança do autor, partilho da opinião de que é evidente que as políticas pensadas para grupos sócio-económicos homogéneos são hoje pouco eficazes, suscitando custos excessivos e resultados constrangedores.

A constatação de que vivemos hoje em registos de mobilidade mais intensos, quer física, quer social e culturalmente, obriga a rever algumas certezas sobre as boas formas de agir nas políticas urbanas.

A cidade permanece um objecto polissémico, um objecto facetado do qual se podem fazer leituras diferentes e complementares umas das outras, consoante o aspecto que se decide privilegiar ou o tipo de método científico ao qual se pretende recorrer.

Para além disso, o próprio autor reconhece o atraso da solidariedade, a crise da citadinidade, da cidadania e das instituições da metapole, pondo em dúvida a capacidade de se ultrapassar estes mesmos problemas.

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