P E R S P E C T I V A S

Para uma crítica do Conhecimento nas sociedades pós-modernas

30.1.06

A sociedade: patrimónios, comportamentos e identidades em constante mudança

«A diversidade social é cada vez mais complexa,
flutuante e plástica. Domina o sentimento de mudança,
os comportamentos individuais são cada vez menos
classificáveis nos grandes grupos de pertença e a sociedade
não é mais do que um conjunto de indivíduos.»

François Ascher


Correlativamente, troca, mobilidade, controlo, produtividade, eficácia económica e planificação são as palavras que talvez expressem de forma mais clara a emergência desta cidade amplamente urbanizada. Por outro lado, se a urbanização tem na sua essência a necessidade de interacção, as cidades afiguram-se dentro deste processo como uma espécie de «comutadores sociais».

Numa perspectiva mais pessimista, regista-se uma corrente que radica quer na sociologia, quer na arquitectura, que defende a (des) construção da cidade e a emergência de uma realidade só e eminentemente urbana
[1]. Ainda dentro desta linha, importará saber se a cidade conseguirá ser um território unificado e específico, ou se será somente um jogo combinado de territórios plurais, diferenciados e justapostos, não podendo, por isso, assumir uma unidade territorial.

O grande desafio que se coloca hoje à cidade – e particularmente a quem a gere – é o de ter a capacidade de controlar as tendências de uma cada vez maior segregação sócio-espacial, fazendo emergir uma cidade recortada, onde parece cada vez mais difícil recompor uma unidade urbana integrada.

Perante uma nova fase de crescimento metropolitano, em que a cidade-rede multipolar e policêntrica, tendencialmente se encontra inserida em sistemas urbanos macro-regionais, eixos continentais e fluxos globais, não é somente o futuro da cidade que se apresenta difícil de prever, é já a própria cidade contemporânea que se torna difícil de compreender, pela sua particularidade, complexidade e escala, que ultrapassa os próprios limites da legibilidade humana.

Todavia, estas imagens, que prefiguram o pesadelo do nosso futuro urbano, já se encontram materializadas nos limites e periferias de muitas das cidades europeias actuais. O caos urbano não é uma antevisão do futuro, é, pelo contrário, o presente progressivo da cidade desurbanizada.

Contudo, a cidade prevalece, apesar das dinâmicas destruturadoras, das lógicas do capitalismo avançado, da mobilidade, das telecomunicações dispersivas e da fragmentação urbanística e social. Se encontramos a cidade bem segura, tanto nos seus alicerces económicos seculares, como nos seus valores culturais e políticos, assistimos ao enfraquecimento da esfera pública na vida e espaço urbanos. Do Porto a Istambul, de Nápoles a Roterdão, ou de Lille a Varsóvia, encontramos, hoje, uma nova relação entre os habitantes e os espaços da cidade.

Numa Europa, em que os equipamentos lúdico-comerciais substituem progressivamente a rede de espaços públicos urbanos, em que se introduzem mecanismos privados na produção de espaços públicos e usos colectivos em espaços privados, verifica-se que já não é clara a fronteira entre os domínios públicos e privados das cidades. Identificamos na leitura das cidades europeias contemporâneas, a existência de um sentimento de crise que atravessa a vida pública, reflectida na crescente intensificação do uso e da importância dos equipamentos e estruturas privadas.

Como qualquer outro aspecto da cultura urbana, a fusão das esferas urbanas do público e do privado, reflecte profundos processos de mudança e antecipa o combate do próximo século entre a cidade pública e social e a cidade civilizada do lucro e da diversão. Contudo, serão estes os sinais aparentes de uma crise da cidade, desistindo do espaço público urbano em prol da colectivização do espaço privado?

[1] Dentro desta óptica podemos destacar a tese de Françoise Choay, que advoga o reino do urbano e a morte da cidade nos seguintes termos: «A cidade já não pode ser um objecto que justapõe um estilo novo ao passado. Ela não sobreviverá senão sob a forma de fragmentos, imersos na maré urbana, com faróis e bóias por inventar.» Outros autores reiteram este ponto de vista considerando que «a velha metrópole está fora de moda, é difícil de governar e é onerosa, já que os ‘efeitos perversos’ ultrapassaram há muito os ‘efeitos benéficos’.»

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